Trata-se de um dos mais bonitos bares da cidade – o que não significa que seja um dos melhores. A decoração é interessante, bem como o cardápio, a música e a iluminação.
Chegam de mãos dadas. Ela é esguia e um pouco desajeitada. Talvez fosse bonita se cuidasse dos cabelos e da pele... Carece de elegância e não sabe combinar cores.
Dele não me lembro muito bem. Apenas que é mais baixo, mais moreno e mais velho do que ela.
Como eu dizia, chegam de mãos dadas em um dos bares mais bonitos da cidade e ele se sente em casa. Ela, num circo. É apresentada ao dono do estabelecimento e a um outro senhor que bebe qualquer coisa ali no balcão. Cumprimenta-os e abaixa a cabeça, mortificada, sem saber por que.
Estou tentando me lembrar o que acontece depois por causa do conto...
Vejamos: pedem cervejas de marcas diferentes. Ficam de mãos dadas sobre a mesa e sob alguns olhares do casal da mesa ao lado. É aceitável que estejam ali, mas o bar a reprova mesmo sem ouvir o que ela diz. Sabemos apenas que não deveria falar sobre estes assuntos e, talvez por isso, o garçom se detém junto a mesa e desata a falar de futebol.
Voltemos à superfície...
Pedem mais cerveja. Ela já está um pouco zonza de tanto beber, rir e falar num outro bar (um dos piores da cidade) com cerveja em copos de plástico e na companhia de uma loira adorável.
Ele vai ao banheiro e ela observa os quadros na parede da frente. Parece que se sente abandonada ali, longe das mãos dele. Mas, minha mesa não está num lugar privilegiado, a iluminação não colabora comigo e eu também já bebi demais, portanto não ouso afirmar nada com relação a esta ideia de abandono.
A comida demora. O dono do bar não é nada simpático com os clientes. Ele está de volta. Mãos dadas... A ideia de abandono desaparece.
Carregamos as pessoas conosco por muito tempo. “Suas mãos batucando no painel do carro”, ela diz. É isso que pretende levar consigo. Só isso mesmo...
Comem, ele paga a conta sozinho e o bar a repreende por isso também.
Vão embora e nenhum conto aparece no bar. Fico parada com a caneta suspensa no ar, o papel em branco.
Saem. De mãos dadas? Esqueci de observar.
Mas sei que tem um conto com eles.
No sofá da sala, tiram os sapatos e falam sobre os pés dela.
No escritório, ele mostra fotos de uma mulher paraguaia no computador e ela comenta qualquer coisa sobre os seios da moça.
O conto aparece no quarto ao lado um segundo depois.
Mais tarde, conversam abraçados e ela gosta de sentir os lábios dele roçando sua pele.
É um conto feliz. Porra! É um conto feliz que eu nunca vou conseguir escrever.
“Sua respiração na minha pele”, ela diz sorrindo. “Pretendo levar isso também”.
Imagem de Nicoletta Tomas