Queremos este romance torto que caminha entre a cegueira do dia e as marcas do ontem.
Queremos esta história louca que vai acontecendo do jeito que dá e também queremos fazer no banheiro do bar, meu bem... Dane-se essa gente e o que irão pensar. Sem nobreza e sem virtudes, seguimos derramando nossos amores desbotados e nossos sofrimentos anacrônicos sobre o que nos resta de lucidez as seis da manhã. Entre os trinta anos que nos falta ou que nos sobra, queremos recolher nossos pedaços pelo chão do quarto no dia seguinte, rindo do mistério da origem desse machucado na coxa esquerda e dessa cama quebrada e desse brigadeiro quente com pão que se justifica sobre a mesa. Queremos a loucura e temos um plano terrorista que envolve pole dance e um ônibus, mas ninguém da equipe tem força muscular pra isso.
Queremos um caso que não tenha fome nem memória, só o dia de hoje pra respirar e saudar e colorir e prosear. Queremos um clássico do terror logo mais tarde, cães psicologicamente saudáveis e aulas interessantes pra nos inspirar.
Queremos falar mal do que não sabemos e fazer poesia na mesa do bar.
Queremos a vida feito um samba de Noel.
Queremos citar Nietzsche, Stendhal, Flaubert e Shakespeare como se fossem gírias de uma geração perdida enquanto navegamos em águas mansas e buscamos a noite que logo finda.
A noite-efêmera-feito-nossa-existência. Não há mais tempo, meu bem...
Apenas o silêncio dos nossos bolsos sem perspectivas sexuais.
Não há mais tempo.