Uma linda princesa cheia de desamor, um rei alcoolista e uma bruxa pianista. Órfãos bem resolvidos e fãs do Sílvio Santos em um reino chamado Delânia.
Um dia a princesa cheia de desamor começou a matar os órfãos afogados, queimados e/ou envenenados. Todos sabiam, não há mistério no nosso [des]conto de fadas.
Onde estão as fadas?
Onde estão as fadas?
Fazem aula de piano com a bruxa, que deixou a maldade por conta da princesa, do rei e de toda a côrte e foi dar aulas de piano grátis para quem não podia pagar. Foi intimada a comparecer na delegacia de Delânia por abandonar seu cargo milenar e alegou de forma petulante que não gostava de concorrência.
Abandonou a profissão - de bruxa só carrega o nome, as roupas e o caldeirão.
Então um policial chamado Juca encontrou os corpos de mais dois órfãos, inchados e azuis no fundo do romântico lago onde o rei costumava cantarolar as músicas do Aerosmith em suas noites de boemia. Foi pedir à bruxa que tivesse uma conversa com a princesa, que resolvesse a situação e retomasse as rédeas da maldade. A bruxa fez cara de desinteressada, mas foi. Voltou dizendo que a princesa estava irredutível.
As fadas estavam esperando impacientes pela aula de piano e falavam sobre Ludovico Einaudi com euforia quando a bruxa chegou apressada dizendo que a princesa havia ficado horrível com aquela progressiva nos cabelos - sempre gostou de cachos.
As fadas começaram a fazer perguntas e a bruxa contou sobre os assassinatos. Ficaram chocadas, pois não viam televisão então eram as únicas que não conheciam as práticas homicidas da princesa. Resolveram interferir:
- Vamos fazer um espetáculo de piano e convidaremos todos os órfãos, depois os alertaremos e tentaremos fazer com que fujam para outro reino bem, bem distante.
A princesa soube da festa e resolveu que era uma ótima oportunidade de matar todos os órfãos. Colocou cianeto na cerveja e matou os órfãos, as fadas, a bruxa e até Ludovico Einaudi, que era convidado especial.
Por sorte o rei havia bebido três litros de Jack Daniels naquela tarde e dormiu sentado no vaso quando ia tomar banho para ir a festa.
Juca encontrou a princesa jogando os corpos no lago.
- Porra, princesa. Já estão todos mortos, pra que jogar no lago?
- Eu matei! Faço o que quiser com os corpos.
- Tem que parar com essa mania de matar as pessoas. Princesa tem que ser meiga, delicada, medrosa e amar todo mundo.
A princesa parou repentinamente com o corpo de um órfão moreno e caolho nos braços e olhou para o Juca como se ele fosse o próximo a ser atirado no rio. Soltou o corpo do órfão moreno e caolho no chão e foi pra cima do Juca. A bruxa, que se fingia de morta, deu um pulo e gritou com voz de bruxa:
- Pode parar princesa! Já chega dessa palhaçada. Matar o Juca já é demais.
A princesa ficou puta de raiva e disse que a bruxa deveria estar morta.
- Onde já se viu bruxa morrer com cianeto! - respondeu com as mãos na cintura.
Então, a bruxa derrubou a princesa no chão, sentou-se sobre suas pernas e agarrou seu pescoço. Bruxa profissional e experiente, em poucos minutos enforcou a princesa e jogou o corpo no lago.
Juca se apaixonou pela bruxa e a pediu em casamento. Ela o questionou sobre assuntos políticos e sobre as motivações que o levaram a ser policial. Deve ter gostado das respostas, pois aceitou a proposta e os dois teriam vivido eternamente/terrivelmente/tacanhamente/desesperadamente/fantasticamente felizes,
não fosse o rei ter chegado cantando Amazing e amaldiçoado a vida conjugal deles.
The End.
6 comentários:
A bruxa era gatona?
Adorei!
Abração, Ana P.!
Amo muito tudo isso rsrsr!
Isso aqui é muito doido rsrs ... bom demais garota, meus filhos tem que ver isto rsrs
A princesa ficou puta de raiva e disse que a bruxa deveria estar morta.
Foi a melhor história infantil que ja li rsrsr
Abraços
Tenha um otimo domingo garota!
Luciano Braz
vc postou!!!esse é o meu tipo de conto de fadas....adorei!!
bju pra vc B.S(preciso escrever inteiro???)
"Eu matei! Faço o que quiser com os corpos."
Putz!!!! Ouvir uma história contada no muro das lamentações já é bom, mas ver a forma como vc escreve, a forma crua, nua, a fluidez das palavras, a espontaneidade com que o mundo se movimenta aqui, não tem descrição. Sei que essa admiração me coloca na ordem (já tão aceita, tão certa) da mediocridade, rsrs,mas ainda assim insisto. As palavras têm transparências e são fundas ao mesmo tempo. Palavras enterradas junto aos corpos órfaos, à mudez dos ventos da tarde. como uma cantiga de escárnio.
Por isso eu digo, nunca é bom chegar cantando! ;)
olá! é só pra dar um alô. to remexendo no meu blog... tirando a poeira...
Abração!
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