quarta-feira, 14 de abril de 2010
Pra quem bate e quem apanha
Sabemos que recentemente levei uma forte bofetada, dessas que fazem a gente perder o equilíbrio e cair com a visão turva, as pernas trêmulas e a face em brasa. Sabemos também que a mão que bateu ainda passeia por aqui.
Também é de conhecimento de todos que isso acontece todos os dias com várias pessoas em diversos lugares do mundo. Existem milhões de faces esbofeteadas e mãos cruéis por aí e lei nenhuma que possa restringir por onde essas mãos e faces podem passear. Logo, este blog continua sendo espaço de livre acesso para todos os corações que batem e/ou apanham.
Porém, gostaria de expressar que fico injuriada com o comportamento de uma mãozinha desaforenta que, depois de bater com força na cara da dona deste blog, ainda aparece por aqui e por outros cantos onde costumo sambar, pra dizer palavras que queimam mais do que a própria bofetada.
Vamos deixar claro uma coisa: quem apanha, chora, porque a coisa em si já dói pra cacete e ainda tem alguns agravantes como quando a mão que bateu é aquela da qual você só esperava afagos. Por outro lado...
E quem bate? Faz o quê? A mão que bate deve ser feliz sem se preocupar com as dimensões da marca que deixou.
Pode até chorar também, só que sem fazer alarde. A mão que bate tem que se comportar como tal em sinal básico de respeito pela face que levou e continua ardendo. Sabemos há tempos que esta mesma mão já foi, provavelmente, uma face ferida em algum outro episódio da vida... mas, agora, neste contexto, nesta situação específica ela é-a-mão-que-bateu-e-estraçalhou-com-o-rostinho-de-alguém! Não tem jeito de assumir outro papel. Não dá pra inverter e fingir que apanhou e que sofre e que sente dor.
Pra ser mais clara, mãozinha:
EU sofro!
EU me lamento!
EU acordo todos os dias e vejo no espelho a marca da humilhação, porque EU me sinto humilhada e ridícula e, ainda assim, tenho que acordar e pentear os cabelos e sair de casa e ser assistente social 8 horas por dia enquanto sinto a face queimar e sei que muita gente aí também vê a marca e comenta baixinho: “Coitadinha dela...” “Pobrezinha, como dói apanhar assim...”
EU passeio por aqui pra chorar de dor, pra tentar recuperar a firmeza das pernas e do espírito, pra sangrar a ferida que lateja nas noites de sono ruim...
Sou EU e não você, mãozinha!
Portanto, penso que cada qual deve se comportar conforme o estrago que fez ou sofreu. Sei muito bem que também já fui uma mãozinha maldita na cara de alguém e não nego os tapas que dei.
Apenas quero, nesta situação, desfrutar do direito legítimo e inalienável que essas marcas que carrego me conferiram, de sofrer e me lamuriar e dar de vítima até cansar, no papel de pobre-coitada-idiota que me cabe, sem que mão nenhuma venha me roubar a cena.
Em suma, que todas as mãozinhas e faces e corações e espíritos livres se sintam a vontade por aqui.
Batendo ou apanhando, todos serão sempre bem vindos. Só que vocês, mãozinhas, não me venham com vitimismos sem pé nem cabeça lamentando o que dói pra quem bateu...
Porque só quem apanhou é que sabe a raiva que isso dá.
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Um comentário:
Sempre que minha mão bateu eu fui uma desgraçada insensível, sempre que fui a face, esta foi cedida para a pancada, de livre e espontânia vontade, desde o momento que me cedi por inteiro. Sempre que fui a face, honrei até o último minuto aquilo que prometi desde o princípio, sempre que fui a mão... bem... menti. Mas sentimentos mudam. Enfim...
Acontece que na segunda bofetada (da mesma mão) costumamos recuperar (ou pensar em querer recuperar) a dignidade e a força que a primeira nos arrancou.
Olha, não sei o que quero dizer afinal e nem qual a conclusão ou o sentido de tudo isso mas, enfim, alguma coisa tem feito sentido?
Sorte.
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