“Um bom lugar pra morrer”. Vamos ao lançamento do livro ver o Dramaturgo de perto, gostamos dele, tem tudo pra ser uma tarde interessante. A Dani não o conhece, diz que poderia tropeçar nele e dizer “desculpa aí”. Rimos, falamos sobre o episódio do tiro, andamos de um lado pra outro dentro da livraria, a movimentação aumentando, até que ele aparece. Chega distribuindo apertos de mão, tapinhas nas costas, algumas câmeras em volta, aquele circo. Tem algo estranho... O Dramaturgo tingiu os cabelos de preto-azulado. Pergunto o preço do livro e um sujeito me diz que custa 25 reais, mas vale muito menos. Mesmo assim eu compro. Tem uma mulher com sapatos floridos vendendo os livros e o Dramaturgo está numa mesa ao lado. Paro na sua frente e espero que autografe. Ele conversa com um sujeito, não sei o que falam, o Dramaturgo enrola com a caneta na mão e eu fico esperando. Até que rabisca um “Para Lady”... Porra! Observo a cabeleira preto-azulada para me certificar de que é mesmo o Dramaturgo e não o Wando que assina meu livro. Tenho vontade de pedir que risque o Lady, mas ele não ouviria – continua conversando com o outro sujeito e continua rabiscando qualquer coisa no meu livro. “Muito obrigada”.
“Para Lady Ana Paula”... Lamentável.
A Lady vai embora e folheia os versos do Dramaturgo. São bons. Ele é grisalho na foto do livro e o Pedro liga perguntando se a Lady vai ao show do Dramaturgo a noite. “Vou não”. Quando escurece a Lady vai beber cerveja barata na Keiko em boa companhia, ri desse bando de artistas e militantes e vagabundos adoráveis, encosta a cabeça na parede e pede que mudem de assunto quando dizem que o Netinho de Paula é candidato a senador e, entre um cigarro e outro, quando a madrugada avança e as garrafas se acumulam sobre a mesa, já falamos de poesia concreta, poesia romântica, partidos políticos, Teatro do Oprimido e descobrimos que o Renato Russo era EMO (ou não!) e que pode ser que nós também somos e que na mesa ao lado existe “Um jeito blues de se ferrar”...
A Lady sente o vento frio da madrugada insólita voltando pra casa e se lembra do verso do Dramaturgo de cabelos recém tingidos: “ainda tem humanidade de sobra nessa carcaça renitente”. O autógrafo? Sei não... ninguém entende a letra. Só sei que no final ele me manda um “mó beijo”. E só.
6 comentários:
“Um jeito blues de se ferrar”...
Gostei, se tem blues é bom,srsrssr
Querida amiga, adorei o texto, muito bom..Tenha uma linda semana..Beijocas
É então quando eu puvlicar o meu livro, vc quer que eu te chame de que???
Bem feito! Quem mandou frequentar
evento tão suspeito quanto o lançamento de um livro!
E ainda pedir autógrafo de um dramaturgo tingido! Lady... por essa você não esperava. rsrsrs
Brincadeira. Gostei do texto, realmente engraçado.
Tudo de bom para você.
Pois é, Onírico...
Vivendo e aprendendo!
Pô, Menina. Meu cabelo tava tingido por causa de uma peça que eu tava fazendo. Contingências da profissão de ator (que também exerço). Já voltou ao normal (ainda bem porque gosto bem mais do jeito que eu sou). Desculpa aí. Beijo.
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