sábado, 30 de maio de 2009

Sonhos outonais


Não, querida... você não está sozinha. Ouça, alguém respira palavras contidas ao teu lado. Esta sensação deve ser por conta da escuridão e porque você está no olho do furacão, onde o tempo parou e os sons da roda-viva não podem te alcançar.
Não precisa chorar, isso é apenas sono. Sei que você não está suficientemente cansada, mas tente morrer até o dia amanhecer. Não fique procurando a solidão neste teto que está tão longe nem nestes braços que te protegem do frio e de você mesma.
Tente não pensar em nada, querida.
Tente não ouvir o som do que você nem sabe se existe e não sabe o que tem pra te dizer.
Ele está batendo sim, mas isso não tem nada a ver com você.
Lá fora, o mundo continua sua maldade do mesmo jeito e os anjos sentem frio de madrugada por isso se abraçam, tomam mais algumas cervejas e dançam sobre as folhas secas dos sonhos outonais.
Tente morrer até o dia amanhecer e essa sensação vai passar assim que você sentir a luz do furacão invadir a letargia do tempo.
Logo a escuridão vai embora, querida... Sei que é impossível dormir com estas mãos te acariciando assim.
Mas, tente morrer, minha querida... Você está cansada.
E não pense que está sozinha, não duvide do que você está ouvindo bater, tome mais algumas cervejas, abrace para se proteger do frio e de si mesma, esqueça o tempo, as cortinas, a poltrona e o som dos passos na escada.

A luz do dia logo vem.

sábado, 23 de maio de 2009

Pedro Henrique


Tem um menino hospitalizado desde terça-feira por conta de uma pneumonia. Ele tem seis anos e é meu sobrinho.

Ontem eu o abracei e ele se lamentou que a Enfermeira iria novamente furar sua mão para aplicar o soro.

Meu coração doeu tanto que eu descobri o que é amar alguém de verdade.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Longe


Estive tentando sobreviver.
Estive tentando me deixar envolver totalmente pela objetividade e nunca mais escrever.
Estive tentando me sentir segura e confiante mesmo passando os dias em lugares que não conheço com pessoas que não consigo me lembrar dos nomes.
Estive pensando em nunca mais falar com você.
Quase fui digerida pelo mundo real e posso dizer que foi uma experiência bem interessante.
Quase desapareci e isso foi mais interessante ainda.
Quase me apaixonei, mas isso foi só uma bobagem.
Quase me esqueci do que mais gosto em você, mas até no mundo real você aparece.
Quase morri de medo, mas constatei a tempo que o medo não mata ninguém.
Ontem foi um dia péssimo, senti vontade de te abraçar e chorar de raiva até você me acalmar.
Hoje foi um dia bom e eu me lembrei da tua voz, sorri para algumas pessoas, pensei em definir minhas atividades profissionais e enfrentar um grande desafio.
Hoje o medo foi menor.
Amanhã eu não sei...
Amanhã estarei longe novamente e talvez eu me lembre da tua voz.

domingo, 10 de maio de 2009

Sobriedade


Eu sei como você se sente. Também tenho tido dias bem difíceis.
E fico aqui fingindo que é tudo por causa da mudança e essa maldita falta de dinheiro, sendo que tem horas que sinto vontade de te dizer toda a verdade...
Será que assim você se zanga e nunca mais volta? Será que eu finalmente quero nunca mais te ver? Será que este gosto amargo na minha boca é bom ou ruim?
Você não sabe me responder, pois não faz parte dele. Você não faz parte das lembranças que envolvem a minha boca e essa música deprimente que estou ouvindo agora.
Gostaria de dizer baixinho no seu ouvido que você não deve se iludir...
Tome cuidado, eu não sou o que você está pensando.
Se eu te olho assim é porque o momento é bom e o ambiente me agrada.
Se eu seguro a sua mão é porque sei que você é inteligente o suficiente para se manter afastado quando eu resolver te olhar diferente.
Eu fico brincando de ser doce e uma hora as pessoas acabam pensando que sou uma menina boazinha e me transformam numa referência de educação e bons modos. Deus me livre e guarde de uma vida assim...
É que eu não quero nada disso.
Na verdade, eu nem sei o que quero, mas também não me importei quando aquele seu amigo me perguntou que tipo de relacionamento nós temos. Eu apenas fiz questão de não responder desfrutando deste direito porque quem fazia a pergunta não era você.
Não quero mentir e...
Se estou vacilante neste momento é porque tenho muito medo de aceitar que amanhã ou depois você pode me odiar e eu vou saber que cada gota do seu ódio foi cuidadosamente destilada pela minha confusão.
Como vamos lidar com o fato de que você não deve mais segurar minha mão nem acariciar meus cabelos quando nos encontrarmos em alguma festa?
A verdade atual combina demais com a embriaguez, mas amanhã estaremos sóbrios e essas músicas deprimentes estarão me dizendo que este gosto amargo só pode ser tristeza e arrependimento de ter enfiado os pés pelas mãos no meio de uma história que poderia ter sido sempre tão honesta quanto era naquela noite em que eu me assustei com a forma como você me abraçou.
Hoje eu tenho vontade de implorar para que você não me reclame para si. E não porque eu não queira ser sua por algum tempo, mas porque essa história de tempo me deixa sempre muito apreensiva e eu tenho medo que você me faça a mesma pergunta estúpida que aquele seu amigo me fez, pois a noção de tempo e espaço é diferente para nós dois.
Amanhã ou depois você estará embriagado pelo ódio destilado cuidadosamente por mim. Mas, não nos preocupemos com isso hoje... Quando acontecer você já terá me escutado sussurrar diversas vezes no seu ouvido para que tome cuidado e talvez assim eu não me sinta tão culpada nem acredite nas acusações dolorosas que vai me fazer.
Entendo você... Também tenho tido dias difíceis. Talvez em breve eu te diga toda a verdade. Talvez você se zangue e vá embora pra sempre... Eu disse pra você não se iludir.
E eu juro que essa merda toda não é contrapropaganda.
Deve ser só sobriedade.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Insone


Sabe aquele tempo de recomeçar?
De ir embora e deixar metade das suas coisas que por enquanto não dá pra levar?
De abandonar o que era bom e o que era ruim sem saber como se curar?
Sabe aquele tempo de escolher olhar pra frente sem conhecer aquele lugar?
De reconhecer que o que dói, dói mesmo que você já tenha se acostumado a chorar?
O tempo honesto de se livrar do conforto...
O tempo estranho de acreditar...
O tempo estafante das despedidas...
O tempo em que a fraqueza se faz mais forte dizendo que o que já se sabe é melhor por pior que seja suportar.
É tanta vida pra deixar pra lá...
É tanta memória pra perder...
Tantas faltas pra compensar.
E mesmo assim, a fraqueza se faz forte...
E o tempo vai passando...
E eu aqui...
Perdida entre essas correntes...
Sem sono e sem ar.