domingo, 3 de abril de 2011

Dias e Prosas de Amelie


E a cada gole de “deixa pra lá”, o homem que só consigo classificar como deliciosamente anacrônico vislumbra um pouco mais dos mundos que se escondem por trás de janelas enfeitadas por flores e loucura.

Enquanto uma delas espalha fios de cabelos loiros pelo quarto fazendo uma escova, com a lingerie de oncinha sobre a cama e uma música sofisticada no rádio, a outra prende os fios escuros e maltratados numa presilha, calça seu allstar preto e acende um cigarro ao som de The Frames.

O homem deliciosamente anacrônico ri, pois ambas são loucas, mas sonham loucuras inéditas de Nelson Rodrigues e Gabriel Garcia Marquez com aquele toque literário que uma imprimiu na vida da outra e que agora resulta em carros batidos e planos sexuais mirabolantes em janelas distintas. Forasteiras em terras que não reconhecem seus erres, sozinhas em apartamentos pequenos demais para tantas expectativas e cidades grandes demais para tanta solidão na qual cada uma delas se reconhece e se descobre.

“A vida não é só festa, Amelie...”

Ora, a vida não é só Filosofia nem só Assistência nem só esse trânsito infernal na volta pra casa. A vida é uma noite, Amelie!

E aqui ou lá, em janelas distintas e loucuras inéditas, sob o olhar embriagado de um personagem de Rodrigues ou de Gabo, elas aprendem impunes que seus ossos não são de vidro e que sempre há uma lingerie ideal no fundo do guarda-roupas para este ou aquele final de semana de nostalgia, de amor, de coragem ou de pura diversão.


Por inspiração deste primor aqui

Foto de Violeta Niebla