domingo, 22 de agosto de 2010

A Lady e o Dramaturgo


Um bom lugar pra morrer”. Vamos ao lançamento do livro ver o Dramaturgo de perto, gostamos dele, tem tudo pra ser uma tarde interessante. A Dani não o conhece, diz que poderia tropeçar nele e dizer “desculpa aí”. Rimos, falamos sobre o episódio do tiro, andamos de um lado pra outro dentro da livraria, a movimentação aumentando, até que ele aparece. Chega distribuindo apertos de mão, tapinhas nas costas, algumas câmeras em volta, aquele circo. Tem algo estranho... O Dramaturgo tingiu os cabelos de preto-azulado. Pergunto o preço do livro e um sujeito me diz que custa 25 reais, mas vale muito menos. Mesmo assim eu compro. Tem uma mulher com sapatos floridos vendendo os livros e o Dramaturgo está numa mesa ao lado. Paro na sua frente e espero que autografe. Ele conversa com um sujeito, não sei o que falam, o Dramaturgo enrola com a caneta na mão e eu fico esperando. Até que rabisca um “Para Lady”... Porra! Observo a cabeleira preto-azulada para me certificar de que é mesmo o Dramaturgo e não o Wando que assina meu livro. Tenho vontade de pedir que risque o Lady, mas ele não ouviria – continua conversando com o outro sujeito e continua rabiscando qualquer coisa no meu livro. “Muito obrigada”.

Para Lady Ana Paula”... Lamentável.

A Lady vai embora e folheia os versos do Dramaturgo. São bons. Ele é grisalho na foto do livro e o Pedro liga perguntando se a Lady vai ao show do Dramaturgo a noite. “Vou não”. Quando escurece a Lady vai beber cerveja barata na Keiko em boa companhia, ri desse bando de artistas e militantes e vagabundos adoráveis, encosta a cabeça na parede e pede que mudem de assunto quando dizem que o Netinho de Paula é candidato a senador e, entre um cigarro e outro, quando a madrugada avança e as garrafas se acumulam sobre a mesa, já falamos de poesia concreta, poesia romântica, partidos políticos, Teatro do Oprimido e descobrimos que o Renato Russo era EMO (ou não!) e que pode ser que nós também somos e que na mesa ao lado existe “Um jeito blues de se ferrar”...

A Lady sente o vento frio da madrugada insólita voltando pra casa e se lembra do verso do Dramaturgo de cabelos recém tingidos: “ainda tem humanidade de sobra nessa carcaça renitente”. O autógrafo? Sei não... ninguém entende a letra. Só sei que no final ele me manda um “mó beijo”. E só.