segunda-feira, 26 de abril de 2010

“Conversa de Botas Batidas”


E já que dói mesmo o jeito é lamber as feridas com uma trilha sonora de qualidade, todas as marcas de cerveja que o bar servir e sempre, sempre em boa companhia. Parece loucura, mas quando a coisa toda já está um caos a gente sai pra ouvir Los Hermanos. Não me parecia uma boa idéia ouvir centenas de pessoas cantando: “É o mundo que anda hostil”...

Porque anda sim! As Organizações Sociais estão invadindo o mundo e as políticas públicas se entregam passivas à privatização.

Mas, um convite bem feito não pode passar em branco. Fingimos que ninguém tem TCC (ai cacete, falei!) pra fazer, que a militância pela saúde não está cada vez mais desesperadora, que a PA da galera está sempre em 120x80, que o coração bate na cadência da vida perfeita e vamos felizes da vida descobrir que “alguma coisa a gente tem que amar, mas o que? eu não sei mais”...

E também não era qualquer um cantando. Era um mesmo tal João que já cantou Chico e me encantou com aquele jeito todo bom de embalar as dores e os amores de muita gente sofredora aqui na Pequena Londres. Entre “doces deletérios” e “escravos sãos e salvos de sofrer” constatamos que este tal João é mesmo estranhamente bonito, extremamente simpático e profundamente talentoso. Tanto que fiquei naquele bar pequeno, abarrotado de gente e sem espaço pra fumantes “até o fim raiar”.

Depois? Ir pro trabalho atrasada no sábado porque uma nuvem dessas gordas e pesadas que correm baixas com o vento despencou bem na Avenida Brasília logo cedo e o trânsito virou um caos. Ninguém enxergava um palmo na frente do nariz em meio aquela confusão branca.

E agora a vida segue neste mundo onde as nuvens despencam lá do céu e “Deus parece as vezes se esquecer”...

Porque logo a nuvem se dissipa, um tal João embala mais um dia de feridas antigas, amores desbotados e ofensiva neoliberal enquanto “especialistas analisam e sentenciam: oh, não!”



Banda Matitaperê – boa música sempre!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Pra quem bate e quem apanha


Sabemos que recentemente levei uma forte bofetada, dessas que fazem a gente perder o equilíbrio e cair com a visão turva, as pernas trêmulas e a face em brasa. Sabemos também que a mão que bateu ainda passeia por aqui.
Também é de conhecimento de todos que isso acontece todos os dias com várias pessoas em diversos lugares do mundo. Existem milhões de faces esbofeteadas e mãos cruéis por aí e lei nenhuma que possa restringir por onde essas mãos e faces podem passear. Logo, este blog continua sendo espaço de livre acesso para todos os corações que batem e/ou apanham.
Porém, gostaria de expressar que fico injuriada com o comportamento de uma mãozinha desaforenta que, depois de bater com força na cara da dona deste blog, ainda aparece por aqui e por outros cantos onde costumo sambar, pra dizer palavras que queimam mais do que a própria bofetada.
Vamos deixar claro uma coisa: quem apanha, chora, porque a coisa em si já dói pra cacete e ainda tem alguns agravantes como quando a mão que bateu é aquela da qual você só esperava afagos. Por outro lado...
E quem bate? Faz o quê? A mão que bate deve ser feliz sem se preocupar com as dimensões da marca que deixou.
Pode até chorar também, só que sem fazer alarde. A mão que bate tem que se comportar como tal em sinal básico de respeito pela face que levou e continua ardendo. Sabemos há tempos que esta mesma mão já foi, provavelmente, uma face ferida em algum outro episódio da vida... mas, agora, neste contexto, nesta situação específica ela é-a-mão-que-bateu-e-estraçalhou-com-o-rostinho-de-alguém! Não tem jeito de assumir outro papel. Não dá pra inverter e fingir que apanhou e que sofre e que sente dor.
Pra ser mais clara, mãozinha:
EU sofro!
EU me lamento!
EU acordo todos os dias e vejo no espelho a marca da humilhação, porque EU me sinto humilhada e ridícula e, ainda assim, tenho que acordar e pentear os cabelos e sair de casa e ser assistente social 8 horas por dia enquanto sinto a face queimar e sei que muita gente aí também vê a marca e comenta baixinho: “Coitadinha dela...” “Pobrezinha, como dói apanhar assim...”
EU passeio por aqui pra chorar de dor, pra tentar recuperar a firmeza das pernas e do espírito, pra sangrar a ferida que lateja nas noites de sono ruim...
Sou EU e não você, mãozinha!
Portanto, penso que cada qual deve se comportar conforme o estrago que fez ou sofreu. Sei muito bem que também já fui uma mãozinha maldita na cara de alguém e não nego os tapas que dei.
Apenas quero, nesta situação, desfrutar do direito legítimo e inalienável que essas marcas que carrego me conferiram, de sofrer e me lamuriar e dar de vítima até cansar, no papel de pobre-coitada-idiota que me cabe, sem que mão nenhuma venha me roubar a cena.
Em suma, que todas as mãozinhas e faces e corações e espíritos livres se sintam a vontade por aqui.
Batendo ou apanhando, todos serão sempre bem vindos. Só que vocês, mãozinhas, não me venham com vitimismos sem pé nem cabeça lamentando o que dói pra quem bateu...
Porque só quem apanhou é que sabe a raiva que isso dá.