quinta-feira, 30 de setembro de 2010

(sob) controle


É tudo uma questão de controle: social, da musculatura, mental, da respiração e do apetite. 9 quilos e tudo fecha de novo... Corta carboidrato e a Regiane resolve que vai comer Arnaldo's todo dia! “Doce vingança”, ela diz.

Aguenta firme, Ana... come pera.

Contrai-relaxa-contrai-relaxa-contrai-relaxa. E o TCC esperando a boa vontade da minha musculatura. Dividida entre o controle social e o pompoarismo, entre a Keiko e uma dieta saudável, entre o peso e a leveza.

Natação, caminhar no Igapó ou academia? Um grande amor ou uma brincadeira? Caladinhos, abraçadinhos, comportadinhos – sãos. Tudo em nome da sanidade!

Nem puta nem beata. Curiosa, talvez. Curiosa e bi. Bi... de bizarra. Bi de bi mesmo – adorei. E rimos: “Bi de bissexual”.

Quietinha e sã, encolhida nessa cadeira ouvindo alguém dizer que o Roberto Marinho sofreu muito pra chegar onde chegou e tentando planejar as próximas horas pra conseguir sair viva dessa reunião e tomar uma gelada na Keiko em nome do “sofrimento e vitória do Roberto Marinho” antes que sua aula acabe, que o ar me falte e que a paciência finde e eu grite pra esta topeira que muita gente sofreu pr'aquele fascista chegar onde chegou.

Afirmo que não vou passar a noite aqui e pouco tempo depois caio no sono. Acordo as três e ouço a chuva. É um desses momentos que penso que vou te deixar e me apaixono. Apaixonada porque vou embora, você vai ligar e eu não terei coragem de dizer que não quero mais vê-lo. Inventarei desculpas medíocres até que você entenda e pare de ligar e eu pare de sofrer. Talvez nem se importe. “Era só um caso”, você há de dizer.

Ah... nós e nossos “amores tristes”. Três horas e eu me reviro na cama, chove, você dorme, me apaixono, decido te abandonar e durmo de novo.

Três dias depois: Controle Social, Keiko, os sofrimentos do Roberto Marinho, dieta e eu corro pra te encontrar. Você chega com seus presentes loucos e eu só de toalha. Sugestivo.

Podemos optar por uma divisão técnica, o CMS aprova. Naquela piscina foi a mesma coisa e você nem percebeu. Tem reunião na 17ª amanhã. Fiquei comovida com a sua satisfação e a minha melancolia. Esta prestação de contas patética e o CMS também aprova. Caminhada segunda, quarta e quinta. Restrições, meu bem? Não, nenhuma. Tem pera ali na quitanda. “Às vezes, me sinto apaixonada por você... mas, é só às vezes.”

Eis o Controle Social e o auto-controle. De fundo, um samba avisa: “A gente ri, a gente chora e joga fora o que passou”...

Contrai-relaxa-contrai-relaxa-contrai-relaxa.

Enfim, temos (quase) tudo sob controle.


A gente ri, a gente chora

E joga fora o que passou

A gente ri, a gente chora

E comemora um novo amor”

(Novo amor – Roberta Sá. Composição: Edu Krieger)


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O que você quer?


Queremos viver encharcados de literatura, mas também queremos uma metodologia para este projeto que nem existe e já assombra.

Queremos este romance torto que caminha entre a cegueira do dia e as marcas do ontem.

Queremos esta história louca que vai acontecendo do jeito que dá e também queremos fazer no banheiro do bar, meu bem... Dane-se essa gente e o que irão pensar. Sem nobreza e sem virtudes, seguimos derramando nossos amores desbotados e nossos sofrimentos anacrônicos sobre o que nos resta de lucidez as seis da manhã. Entre os trinta anos que nos falta ou que nos sobra, queremos recolher nossos pedaços pelo chão do quarto no dia seguinte, rindo do mistério da origem desse machucado na coxa esquerda e dessa cama quebrada e desse brigadeiro quente com pão que se justifica sobre a mesa. Queremos a loucura e temos um plano terrorista que envolve pole dance e um ônibus, mas ninguém da equipe tem força muscular pra isso.

Queremos um caso que não tenha fome nem memória, só o dia de hoje pra respirar e saudar e colorir e prosear. Queremos um clássico do terror logo mais tarde, cães psicologicamente saudáveis e aulas interessantes pra nos inspirar.

Queremos falar mal do que não sabemos e fazer poesia na mesa do bar.

Queremos a vida feito um samba de Noel.

Queremos citar Nietzsche, Stendhal, Flaubert e Shakespeare como se fossem gírias de uma geração perdida enquanto navegamos em águas mansas e buscamos a noite que logo finda.

A noite-efêmera-feito-nossa-existência. Não há mais tempo, meu bem...

Apenas o silêncio dos nossos bolsos sem perspectivas sexuais.

Não há mais tempo.