quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Quanto custa?


Considerar que a saúde está deixando de ser um direito para se transformar em um bem de consumo pode ser uma visão imediatista. A parceria público/privado presente na legislação e no cotidiano do SUS mostra que, apesar da Reforma Sanitária e de toda a luta social em torno da política de saúde no Brasil, esta sempre foi manipulada como uma mercadoria.

No entanto, o contexto histórico apresenta um acirramento das discussões e dos caminhos futuros das políticas públicas brasileiras. A Educação a Distância e o PROUNI na Educação, bem como as Organizações Sociais e Fundações Estatais de Direito Privado na Saúde colocam no centro da discussão o avanço da estratégia neoliberal de privatização do Estado por meio da redução de suas funções junto à sociedade por via das políticas sociais. O Estado na lógica neoliberal se torna cada vez mais um instrumento da classe burguesa para construção e manutenção das condições ideais de acumulação de capital e perpetuação da exploração do proletariado.

Refletir sobre a ideologia que embasa a privatização das políticas públicas nos leva a questionamentos acerca do papel da democracia neste momento histórico, quando a burguesia se utiliza dos valores democráticos para manipular a opinião pública e engendrar a Reforma do Estado, sucateando instituições e serviços públicos, desvalorizando e desqualificando o funcionalismo estatal, precarizando o processo de formação e trabalho nas instituições estatais, até que a sociedade acredite que o privado é melhor, que a mercadoria possui qualidade, enquanto o direito é uma falácia.

Desta forma, as políticas sociais públicas se entregam ao ataque neoliberal, o regime democrático se torna o cenário perfeito para uma reforma que a sociedade manipulada aceita e até embala em seu discurso ideologicamente construído pela classe dominante para que não haja conflitos.

Assim, as políticas públicas e os direitos de cidadania morrem pacificamente pelas mãos da classe dominante que tem a democracia burguesa como arma.

E quando o assunto for Saúde a sociedade haverá de perguntar: "Quanto custa?"

Por ora, perguntamos:

"Quanto custa um direito universal?"

domingo, 22 de agosto de 2010

A Lady e o Dramaturgo


Um bom lugar pra morrer”. Vamos ao lançamento do livro ver o Dramaturgo de perto, gostamos dele, tem tudo pra ser uma tarde interessante. A Dani não o conhece, diz que poderia tropeçar nele e dizer “desculpa aí”. Rimos, falamos sobre o episódio do tiro, andamos de um lado pra outro dentro da livraria, a movimentação aumentando, até que ele aparece. Chega distribuindo apertos de mão, tapinhas nas costas, algumas câmeras em volta, aquele circo. Tem algo estranho... O Dramaturgo tingiu os cabelos de preto-azulado. Pergunto o preço do livro e um sujeito me diz que custa 25 reais, mas vale muito menos. Mesmo assim eu compro. Tem uma mulher com sapatos floridos vendendo os livros e o Dramaturgo está numa mesa ao lado. Paro na sua frente e espero que autografe. Ele conversa com um sujeito, não sei o que falam, o Dramaturgo enrola com a caneta na mão e eu fico esperando. Até que rabisca um “Para Lady”... Porra! Observo a cabeleira preto-azulada para me certificar de que é mesmo o Dramaturgo e não o Wando que assina meu livro. Tenho vontade de pedir que risque o Lady, mas ele não ouviria – continua conversando com o outro sujeito e continua rabiscando qualquer coisa no meu livro. “Muito obrigada”.

Para Lady Ana Paula”... Lamentável.

A Lady vai embora e folheia os versos do Dramaturgo. São bons. Ele é grisalho na foto do livro e o Pedro liga perguntando se a Lady vai ao show do Dramaturgo a noite. “Vou não”. Quando escurece a Lady vai beber cerveja barata na Keiko em boa companhia, ri desse bando de artistas e militantes e vagabundos adoráveis, encosta a cabeça na parede e pede que mudem de assunto quando dizem que o Netinho de Paula é candidato a senador e, entre um cigarro e outro, quando a madrugada avança e as garrafas se acumulam sobre a mesa, já falamos de poesia concreta, poesia romântica, partidos políticos, Teatro do Oprimido e descobrimos que o Renato Russo era EMO (ou não!) e que pode ser que nós também somos e que na mesa ao lado existe “Um jeito blues de se ferrar”...

A Lady sente o vento frio da madrugada insólita voltando pra casa e se lembra do verso do Dramaturgo de cabelos recém tingidos: “ainda tem humanidade de sobra nessa carcaça renitente”. O autógrafo? Sei não... ninguém entende a letra. Só sei que no final ele me manda um “mó beijo”. E só.