domingo, 29 de novembro de 2009

Salmo do ACS


O ACS é o meu pastor,
e a guia não me faltará.
ACS suado que estais na rua,
de casa em casa para a saúde levar.
Venha a nós suas visitas.
Seja feita a nossa alegria, assim na segunda
como na sexta.
As orientações de cada dia nos daí hoje.
Perdoai a nossa ignorância.
Assim como nós perdoamos a quem vós
não tenhais visitado.
E não nos deixeis cair em descaso.
E livrai-nos do SUS.
Amém.


Adriana Rodrigues (ACS).

A escrita criativa e crítica de alguém que tem muito a dizer.

Uma categoria profissional que merece ouvidos e atua no silêncio.

Uma oração pela melhoria das condições de trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O pão nosso de cada dia


O milagre da MULTIplicação. Sete pães para irmãos que se multiplicam no milagre da aprendizagem. Na campanha da salvação... Sete pães que apodrecem nas repartições públicas. Nos cofres da Nação... Pães de hipocrisia, de afastamento, de negação. O trigo da autocracia burguesa, do ranço paternalista, da garçonete soberba... Da segregação. Pães de política suja, de mediocridades provincianas, de interesses avessos... De exploração. O pão do trabalhador alienado, do usuário esfaimado, do profissional robotizado... O pão da dominação.
A fome da equipe MULTI não se mata com este pão.
A equipe multi come e vomita indignação. Com seus jalecos de fuxico, seus pontos de dor, jamanta, sono e este verão... A equipe multi mastiga o pão amargo da resignação. Enquanto sonha com o milagre da multiplicação. Do trigo da liberdade. Do pão da expressão. Que sacia a tal fome de democratização. Da MULTIplicação do pão e da palavra...
No milagre da insurreição.

domingo, 15 de novembro de 2009

A vida segue


De novo esta necessidade incontida de escrever sobre jantares, olhares, relações, medos, incertezas...
De novo esta angústia e o antigo sono amigo se afastando no meio da noite, dando adeus e me deixando sozinha de olhos abertos na escuridão.
Parece que a vida é isso mesmo, este eterno festival de incertezas, desencontros, solidões...
Gostei muitíssimo de ver aquele sorriso na foto - alguém tem que estar bem nesta história toda e eu juro que prefiro que seja você.
Eu sabia que comigo seria diferente, que estes finais de semana chegariam carregando oito toneladas de preocupação e todo tipo de pensamentos inadequados para quem precisa viver dia após dia com tantas lembranças e ainda seguir em frente.
O lago está marrom, mas ainda assim ele é bonito e me faz lembrar de você, do seu sorriso, da sua voz, da sua vida que me deixa sem sono aqui deste lado do mundo.
Tão longe eu estou de mim...
E esta chuva calma, estes trovões que percorrem as distâncias, o crepúsculo do dia impregnado de saudade e de medo do que pode se romper, do que pode renascer, do que pode se perder para sempre.
Mais um dia que morre longe...
Mais uma esperança que desaparece com a luz...
Mais uma lágrima que escorre furtiva enquanto tento me convencer de que está tudo bem mesmo que você não atenda o telefone.
Sua garganta está melhor, você não está bebendo demais, a solidão não te angustia, as músicas são boas, o tempo é de descobertas, a vida segue...
O lago está da cor da terra em contraste com o verde escuro do jardim nesta hora do dia...
A família se reúne e fala sobre nossos erros, dão suas opiniões isentas de culpa ou responsabilidade, tiram conclusões de quem somos a partir desta última semana de revoluções inglórias...
Nem nós sabemos.
Ninguém sabe.
Só dá pra saber o que se passa aqui dentro e sobre isso não dá pra concluir nada.
Aceito suas decisões com a passividade que não tenho, mas invento pra você...
Invento tudo pra nós dois enquanto o dia morre longe...
Enquanto a vida segue tão longe de mim.