terça-feira, 14 de julho de 2009

É simplesmente uma maneira de sobreviver


Como se não fosse necessário ter um anestésico as vezes e como se o som deste piano dissesse algo além dos 900km que separam duas pessoas sobreviventes.
Hoje eu morri mais de uma vez e parece que é sempre a ausência cortando meus pulsos para depois me dizer que nada disso é a morte, e sim a decadência que nós já conhecemos tão bem e que já é hora de parar de chorar para amanhã comer uma fruta pela manhã e caminhar na Avenida Tiradentes ouvindo Coltrane e passar por aquela praça e depois cumprimentar seu pastor belga com a familiaridade de velhos amigos e me alegrar quando ele sorrir pra mim.
Prometo te dizer bom dia com voz isenta, falar trivialidades no caminho para o trabalho com interesse incomum, sorrir para você todas as vezes que me olhar esperando um sorriso de cumplicidade e não ter os olhos sanguíneos de quem suportou as lágrimas sem filmes nem vodca nem cocaína durante um final de semana de dores de estômago, roupa suja e fotos.
Prometo gostar do almoço que você vai preparar para mim... Só não me peça para parar de fumar e escrever textos felizes.
Eu só queria mais um cigarro e algo líquido que fizesse doer um pouco menos.
Prometo não te mostrar os 900km que separam dois sobreviventes nem as marcas da decadência nos meus pulsos ou nos meus olhos sanguíneos.
Prometo não chorar lágrimas sem lembranças.
Prometo não mentir nenhuma mentira além daquelas que você me pedir.
Prometo estar bem e ser apenas uma Assistente Social cansada.
Prometo respirar tranquilamente esta política pública e engolir silenciosamente toda a tristeza que cabe em 900km.
Prometo sobreviver.


Tela de Ray Caesar

4 comentários:

Poeta Mauro Rocha disse...

Prometo ler todos esses textos maravilhosos

BJS

L.J disse...

Desculpe a invasão, vi o link do seu blog e passei apra conferir. Vc se mostra tão intensa em seus textos, que tenho passado sempre por aqui, parabéns e continue escrevendo. Abraços

Toni disse...

E olha, a gente sobrevive pra depois viver de novo.

Dani Santos disse...

... intensidade.
como uma palavra perdida no escuro.
esquecida no silêncio do quarto.
sem vendas sem esqueinas vazias sem meias-palavras.
a intensidade da cor e a crueza. a palavra nua. a vida nua. como poucos são capazes de ser. ainda que doa.