domingo, 22 de janeiro de 2012

Entre morangos e ressaca


E ele fala que não pode. Sabe que não deve, mas me dá as mãos, o coração e todo o resto. E eu não sei o que fazer com um homem assim, inteiro. Agradeço e nego. Choro baixinho para que não saiba que preciso de um abraço. Recuso discretamente o vinho para que não perceba que estou mais triste do que o álcool poderia suportar. E já não sei se sou forte desse jeito ou se essa é a mulher que inventei pra ele. E volto dizendo que está tudo bem e espero e danço e bebo e amanheço olhando o fundo do copo com um sorriso etílico nos olhos cansados de saudades. E ele atravessa a passarela com uma mochila nas costas e me abraça e me amarra e me bebe. Adormeço sem saber onde me perdi – plenamente inconsciente do resto do mundo que nos separa para sempre até de manhã. E sonho sonhos onde o planeta gira na direção contrária, inverte o tempo, confunde as cores, os sabores e ele não vai embora. E me ofereço no café da manhã, entre morangos e ressaca. Ele me ensina um novo dia. Ele me mostra dias velhos. Ele me fotografa e me contrata. E me solta as mãos para que eu durma. E me embala o sono com verbos inventados depois vai embora no meio da noite. Ainda chove. O chão se desfaz sob meus pés e o céu escorre pelo meu corpo. Volto a dormir.


"Nothing is real,

And nothing to get hung about.

Strawberry Fields forever"

(Strawberry Fields Forever – The Beatles)

Um comentário:

Bendrix disse...

São muitas ações e emoções genuínas para atribuir a uma "mulher inventada".