sábado, 12 de setembro de 2009

Sobre Bruxas e Anjos


Era uma vez (outra vez...) uma pequena Bruxa chamada Roberta. Pequena, porém muito astuta - presidente do sindicato das bruxas, militante da desburocratização da maldade e da socialização da magia.
E também tinha uma Princesa neste conto, mas ela tinha umas taras estranhas por Anfíbios... nem vamos falar sobre ela.
A Bruxa Roberta vivia pela causa da bruxaria e sofria de insônia, até que, em um dia cinza no qual procurava um advogado para articular a instituição de um piso salarial para as bruxas, atropelou uma criatura descabelada que atravessava a rua distraidamente para ir à padaria. Roberta percebeu que aquele ser não deveria ser humano, pois era descabelado demais... Desceu do carro desconfiada, olhou o sujeito caído no asfalto e confirmou sua suspeita:
- Eis que eu atropelei um anjo!!! - gritou vitoriosa
- Ajude-me, por favor - sussurrou o Anjo Descabelado com o cotovelo todo estourado.
- Ajudo não, sou Bruxa. Ajudar não é meu departamento.
- Esqueça isso. Sou Anjo, mas vou foder com a sua vida se não me ajudar a me levantar. E garanto que foder com a vida dos outros também não é meu departamento.
- Você não consegue se levantar, e eu tenho um carro... vou acabar de matá-lo.
Então a Bruxa Roberta entrou calmamente no carro e acelerou para acabar de matar o Anjo Descabelado, mas as Fadinhas Desaforentas apareceram e levaram o tal Anjo, que ainda teve a pachorra de fazer um gesto obsceno para a Bruxa enquanto era carregado por aquela revoada de fadas (des)encantadas.
Roberta ficou furiosa, mas se lembrou que tinha outros assuntos para tratar e foi atrás do advogado. Ao sair do Sindicato, encontrou o Anjo Descabelado empoleirado sobre o capô de seu carro, olhando-a de forma petulante e desafiadora.
- Tem três coisas que eu gostaria de te perguntar: Por que é que anjo é tão descabelado, tão imbecil e por que cagou no capô do meu carro?
- Imbecis nós não somos, e nossos cabelos são assim porque nós voamos! Não dá pra ter cabelos arrumadinhos – isso só em filme. E eu não caguei aqui, foi uma pomba!
- E você é o que?
- Eu sou um Anjo!!
- Pra mim é tudo a mesma coisa. E agora me dá licença, porque eu tenho ojeriza do barulho das suas asas.
E a Bruxa Roberta foi embora, deixando o Anjo Descabelado empoleirado na mureta do estacionamento com aquele sorrisinho insuportável de quem não vai desistir tão cedo.
Sim... isso é um conto de fadas, e este Anjo Descabelado está apaixonado pela Bruxa Roberta.
Afinal, até mesmo as bruxas precisam de um anjo.
Naquela noite, o Anjo Descabelado entrou no quarto da Bruxa Roberta silenciosamente enquanto ela dormia e contou-lhe histórias de anjos velhos, diabinhos presos em garrafas e japoneses capitalistas que cobram a parte pelos copinhos enquanto ela sorria sentindo a fala cantada do Anjo acariciar seu sono. E, desde esta noite, todos viveram felizes para sempre...
A Bruxa (que nunca mais sofreu de insônia), o Anjo (que continuou apaixonado pela Bruxa apesar de todos os palavrões, discursos políticos e feitiços estapafúrdios), as Fadinhas Desaforentas (que também criaram um sindicato a exemplo das bruxas), a Princesa Pervertida (que casou com um Sapo chamado Eusébio) e até os Anfíbios (que ficaram livres dos assédios da Princesa).
Era uma vez uma Bruxa chamada Roberta e um Anjo Descabelado...

PS: Juro que este é o último. E o dedico à Roberta Figueiredo.

5 comentários:

fifi disse...

Adorei...

Roberta Figueredo disse...

obrigada.....bjao....

John Rômulo disse...

Olha realmente vc tem o dom da escrita !
muito bom msm e fora q vc sabe prender a nossa atenção!


gostei muito

Luciano Braz disse...

Tú é um show a Parte garota
Parabéns pelo conto.

Tenha uma semana abençoada!

Luciano Braz

Delirium disse...

ah, último não, adoro.!