terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Processo inflamatório


E essa dor que não passa.
Nem meus pés eu consigo lavar.
Não acredito que sou capaz de permitir que a minha cabeça faça isso com o meu corpo.
Mente e corpo doentes e estagnados.
Andar dói. Abaixar dói, levantar, sentar, ficar em pé... Tudo e qualquer coisa faz doer.
Menos deitada fitando o teto do quarto e cantando sozinha todo o repertório da Legião Urbana enquanto a Chica arranha a porta querendo fazer um dueto.
Nada está bem. Tudo está errado.
Como é mesmo o finalzinho de Eduardo e Mônica?
O teto branquinho. O barulho do ventilador. As pernas esticadas e o corpo reto.
Assim, quase não dói.
Sede. A geladeira tão longe. E essa dor miserável voltando ao me levantar.
Mente. Corpo. Nada funciona bem.
Antes eu conseguia lavar meus pés e me lembrava da letra inteira da música.
Mais uma injeção?
Ortopedista. Neuro. Raio-X. Qualquer coisa. Eu só queria que parasse de doer.
Não é nada. Foi de lavar aqueles tapetes naquele tanque meio baixo.
Foram essas madrugadas, esses pesadelos, essa tensão. Fórum, café da manhã, almoço. Como assim, sem frutas? Comissão de alimentação. Precisa de CI para utilizar a copa do HU! É brincadeira...
Vamos rever nossos objetivos aqui.
Vamos rever tudo: projetos, prioridades, caminhos, escolhas, sentimentos, a cor do teto, dos cabelos, do lago, da vida...
Ah, Renato Russo, “há tempos são os jovens que adoecem.”
Esses nossos sorrisos enferrujados, nossas lágrimas sem brilho, nossos olhares pétreos, nosso desdém por nós mesmos.
Estamos todos fragilizados, por isso, vamos nos abraçar.
Melhor não. Preciso ficar deitada até sarar.
Cinco chamadas não atendidas.
Inútil retornar.
“Você está melhor?”
“Não. Estou péssima e não consigo nem lavar meus pés.
Estou revendo quase tudo, já que mal consigo andar.
Não se preocupe, é um mal passageiro.
Já, mãe... injeção e repouso.
Tô cantando Legião Urbana e olhando pro teto.
Posso estar enlouquecendo.
Deitada não dói.
É só um processo inflamatório.
Não nos preocupemos.
Vai passar.
Logo desinflama, mãe.”
O corpo e a mente.

8 comentários:

Desmanche de Celebridades disse...

Renato Russo, assim como Rosseau que inspirou seu nome artistico, era contraditorio. Temos todo o tempo do mundo, ele dizia. Para em seguida dizer que não tinhamos tempo a perder. Ele sabia que o ser humano não vive sem esperança, mas que sempre acaba caindo nos mesmos erros. Ele era humano, demasiadamente humano.

Abraços.

Ludmilla Cardoso de Oliveira disse...

Adoreeeei. adoro eles. e aliás adorei a foto ali de cima do blog, que mistura hein. perfeita mistura. abraço.

Primeira Pessoa disse...

belo blog: perfume e conteúdo.
gostei, voltarei mais vezes.
grande abraço do
roberto.

Zé, de sobrenome Forner disse...

Puxa, fazia tempo que não passava por aqui. Olhando pro teto, hein?!
É bom também...
Se quiser alguém p'ra cantar uma da Legião é só me chamar!
Bjo, indefinível!

Poeta Mauro Rocha disse...

Belo post.

Lo. disse...

E eu acho sempre que o corpo só sente porque a alma dói.

E eu troquei de blog, há meses. Não sei se tu já tava sabendo...enfim, agora tá. :)

beijo

Poeta Mauro Rocha disse...

Ola Ana Paula!!
Quero desejar-lhe um Feliz Natal para você e toda sua familia e que tenhamos muito amor e paz nos das que se seguem,estou antecipando pois vou viajar e não haverá internet onde vou,rssrsrr, mas independente diso, gostaria de dizer que estarei ligado a todos na esperança de um Brasil e mundo melhor e no desejo que sejamos muito felizes. Um abraço!!

Vanessa Souza disse...

ADORO muito Legião.