Naquela tarde quente em que se
encontraram com tanta solenidade, o mundo se transformara todo em músicas de
notas simples. Descobriram que todos os afetos podiam ser afáveis e emitiram um
pedido de desculpas constrangido a si mesmos pelas agressões veladas que
aceitaram em esforços passados de serem politicamente corretos, graves demais
ou semelhantes a alguns exemplares afetados da humanidade.
Definiram os termos da mais
completa simplicidade de suas relações e elegeram o carinho gratuito como única
forma aceitável de tratamento entre pessoas que se abraçam (mesmo que
eventualmente).
Discutiram longamente a base
desse não-contrato entre seres imaginários que desvendaram um jeito real de
existirem em um mundo cão.
- Seremos afetuosos, cultos e
distraídos.
Como seres naturais, estavam
dispostos a não compreenderem a complexidade dos impulsos de afastamento,
hostilidade ou resistência, salvo em exceções bem delimitadas de opressão,
mediocridade ou grandes oscilações hormonais. De resto, seriam leves como os
movimentos de mãos que regem uma orquestra urbana de poesia e sexo.
As diretrizes desse programa perturbador
foram cantadas em ritmo de valsinha com um leve sotaque francês por três vozes suaves
acompanhadas por instrumentos clássicos incontestáveis:
- Um convite feito com um fio de voz.
- Um pedido objetivo.
- Uma porta entreaberta.
Não havia impedimentos,
orientações ou processos dolorosos de descoberta ou crescimento. Seriam para
sempre pequenos, hedonistas e plenos de amor...
- ... e sexo.
Estava instituído o estado permanente
de empatia e encantamento entre seres imaginários que se encontram em um
domingo a tarde deste mundo cão.
Para K.
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