segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

The Kiss


Há quem diga que eu não sei amar... Tenho, ao invés disso, “ataques de inspiração literária”. Quiçá seja verdade... nesta arte eu sou desastrosamente inábil. Embora literariamente eu também não tenha nenhum encanto...
Mas, acredito que o amor inspira a escrever, principalmente quando causa aquela dor azucrinante que o Chico quis curar com aspirina...
E, para o caso do leitor não gostar do texto (que por vezes me parece piegas ou grotesco, além de prolixo) a tela que acompanha esta postagem é algo realmente digno de ser contemplado: “The Kiss” - de Gustav Klimt.

Um dia, de repente, você será o amor que não respeita decisões...
Um dia você será a voz que acompanha o violão enquanto estou no chuveiro...
Um dia você será o homem que me fará rir de suas bobagens depois do amor...
Um dia você será a única coisa que vou querer depois de um dia inteiro de trabalho...
Um dia você será tão indispensável quanto o samba e a cerveja...
Um dia você será tão bom quanto a sensação de estar magérrima...
Um dia você será todo diversão...
Um dia você será a coisa mais louca que eu já fiz...
Um dia você será a minha imagem refletida nos olhos de quem não pode me ver...
Um dia você será o grito da Janis...
Um dia você será a atmosfera insalubre do bar...
Um dia você será a batida de um samba novo...
Um dia você será o cigarro entre meus dedos trêmulos...
Um dia você será o nascimento de outra vida...
Um dia você será a única criatura que terá acesso irrestrito ao meu corpo e à minha alma...
Um dia você será o homem que eu vou querer matar nas tardes insuportáveis de TPM...
Um dia você será aquele que me fará agradecer a Deus por estar viva ao sentir seu abraço...
Será o homem que me ensinará a usar vírgulas...
Será o homem que fará meu corpo implorar pelo teu...
Será o sexo proibido no banheiro do bar...
Será o deleite desta lembrança...
Será eterno entre minhas coxas...
Será o olhar humano que consome...
Será imaculado em minhas calcinhas...
Será o homem para quem meus gemidos serão a expressão maior de que não dá pra viver sem saber o que é “trepar com amor”...
Será o homem com que vou brigar... para depois passar a noite toda me reconciliando...
Será os braços nos quais vou adormecer...
Será o peito sobre o qual vou me deitar para ouvir por muito tempo a cadência gostosa do teu coração...
Será a tarde preguiçosa no domingo inebriado de violão e cerveja...
Será o gosto do vinho na minha boca quente...
Será a marca indelével da vida no meu corpo...
Será a entrega única... que passa singela entre livros e discos e a bagunça do meu quarto...
Será o telefonema no meio da noite que vai calar meus palavrões...
Será, de repente, o sorriso de menino que vai me fazer esquecer as horas e as obrigações...
Será um mundo a parte...
Será minha única fantasia...
Minha única realização...
Minha maior vaidade...

Um dia, de repente, você será a boca mais desejada...
Será a saliva que me alimenta...
Será a língua na minha nuca... o choque e o arrepio da alma...
Será a respiração morna na escuridão...
Será o peso das pernas sobre as minhas nas noites insones...
Será o sexo de brincadeiras... de experimentações de cheiros e gostos e posições e lugares...
Será a risada incontida...
Será o gozo indiscreto...
Será a fúria de mãos e pernas e boca acompanhando palavras obscenas...
Será a mansidão do coração acompanhando palavras de amor...
Será o menino que chora nos meus braços...
Será o homem que vive nos meus olhos...
Será o amor que já não sofre...
Será a saudade que nos sorri...
Será o instante de uma vida inteira...
Será o bater de asas da borboleta...
Será o amor e todos os outros demônios...
Será o anjo que me devora...
Meu abrigo de paz...
Minha promessa de felicidade...

Hoje...
Você é o homem que minhas mãos procuram trêmulas...
Você é o grito contido na garganta...
Você é a saudade que me arranha...
Você é o meu sorriso quando alguém me diz Bom Dia...
Você é o amigo que me agüenta as lamúrias...
Você é a única voz desafinada que eu gosto de ouvir...
Você é o sotaque que me faz lembrar a distância...
Você é a lembrança do que fui um dia...
Você é a imagem do futuro incerto...
Você é sombra de árvore frondosa na pescaria...
Você é um conto...
Você é La Valse d’Amelie...
Você é o meu medo da morte...
Você é uma confusão...
Minha coragem recém nascida...
Uma briga de bar...
Um fim de noite na delegacia...
Você é a maquiagem borrada...
Você é um par surrado de AllStar...
Você é o sono insuportável no trabalho...
Você é a multidão sem sentido do samba...
Você é a bebedeira decadente...
Você é a inquietação do fígado no dia seguinte...
Você é o gosto amargo na boca...
Você é a motivação da minha última dieta...
Você é o meu TCC...
Você é a Humanização às avessas...
Você é uma política pública... sem diretrizes...
Você é a lágrima que me escapa nos momentos mais inoportunos...
Você é a minha seriedade...
Você é a minha fé...
Você é o meu amanhecer sonolento...
Você é o samba do Vinícius...
Você é a dança desajeitada do Jair...
Você é os móveis deste quarto...
Você é a estrada bonita no entardecer, no caminho da faculdade...
Você é a descoberta de novos mundos...
Você é o milagre do sentimento gratuito...
Você é um infinito sobressalto...
Você é o anjo libertino que me fala indecências...
Você é o demônio que me fala de amor...
Você é a minha espera por este dia...
Você é a minha ilusão...
Você é o meu de repente...
Você é a minha única verdade...
Minha tentativa de negação...
Meu amargo desejo...
Meus medos em exposição...
Minha fragilidade mais íntima...

Você é minha maior invenção.


Um abraço a todos...
Até.

3 comentários:

... disse...

Kiss para você e seu texto maravilhoso!!!

Unknown disse...

esse Texto....

é....

o texto....

Vagner Leão... disse...

Quem disse que vc não têm talento pra blog?

"Que me ensine a usar vírgulas" foi tudo!!!