sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Scotland


Definitivamente, eu nasci no país errado.
Meu corpo não suporta o calor. Minha mente, tampouco.
Acho inadmissível viver num lugar do planeta onde não se pode vestir descentemente porque isso coloca em risco a minha sobrevivência. Afinal, posso morrer de calor se não usar roupas leves e pequenas.
O fato é que eu não deveria ser brasileira.
O povo daqui é tão sensual, receptivo e sinestésico.
Eu não.
Eu gosto de roupas fechadas em punhos e pescoço, gosto de cumprimentar de longe e odeio que coloquem a mão em mim. Juro que não é afetação – só acho que não há necessidade de colocar a mão na minha perna enquanto me conta sobre a briga com o irmão nem no meu ombro enquanto fala sobre a venda do carro. Confesso que tenho bons amigos que são assim, mas eu levei muito tempo até conseguir gostar deles. E também confesso que minha vida era muito mais tranqüila até o dia que eles descobriram que eu abomino o tal “abraço de urso”... mas isso é outra história.
O fato é que o Brasil é um país de calor atmosférico e humano, e eu não aprecio nada disso.
Sou naturalmente européia. Não francesa, pois também não gosto daquela soberba intelectual dos da França. Não inglesa, pois não me agrada aquela arrogância impertinente dos britânicos. Não italiana porque careço de sensualidade e não sueca porque me faltam educação e bons modos.
Sou naturalmente escocesa.
Sou humilde e simpática de uma forma bem sutil.
Sei sorrir com alguma doçura e considero absurdamente sexy o traje kilt.
Amo o frio e as paisagens bucólicas.
Dia desses comecei a traçar meu itinerário e até encontrei a cidadezinha onde quero viver ao norte da Escócia.
Passarei todas as minhas próximas noites implorando a Deus para que me arrebate deste lugar e me leve para aquele cantinho paradisíaco do mundo, onde poderei construir meu reino de solidão, silêncio, frio e paz.
Até lá, sigo brasileirando amargamente.
Se o calor não der cabo de mim... Um dia escreverei de algum lugarzinho recôndito da Escócia e postarei a foto de um belo exemplar de macho escocês enfiado dentro daquele traje em xadrez afrodisíaco.
Que Deus Pai ouça minhas preces.
Amém.

4 comentários:

Anônimo disse...

"Não inglesa, pois não me agrada aquela arrogância impertinente dos britânicos."

Ah, eu gosto dos ingleses, da Inglaterra. Prometi pra mim que não morro sem antes colocar os pés lá. Mesmo!

Gabriel Santos de Araújo disse...

Ana, li esse texto e o "Diálogo" e na parecença de uma antípoda entre eles existe travessias ligantes. São situações diferentes, mas a relação com o outro(indivíduo) não está especificamente numa demarcação, seja ela territorial, individual.
Antes disso há relações humanas fortes, como aparece no "Diálogo". Este apresenta a incompatibilidade com o outro pelo diálogo, ou seja pela experiência mais comum do humano. A dificuldade de investir no outro, mas como tentativa. Agora nesse texto "Scotland" me parece que você esquece dessas relações, apenas as usa para exemplificar uma "ojeriza". Estamos num momento que é mais do que globalização, na qual a idéia do outro está atravessada por muito mais coisas do que um recorte territorial. Também não gosto do calor, mas isso diz tão pouco. Quando individuamos as coisas se esquecemos que elas significam com o outro. Ou seja, existem numa relação.
Compreendo teu texto. Acima apenas algumas coisas para pensar. Essa escrita(sem justificar, mas sim relatar travessias relevantes) se faz pela antípoda (aqui com o sentido provocativo da distância) que me pareceu os dois textos, mas que ocasionalmente tem combinantes, o principalmente é a escrita de uma mesma mão.
Achei frio teu texto, para quem me levou em algum lugar com o diálogo.
Abraço
ps: a ficcionalização é uma maneira de sair da armadilha da individuação.

Vagner Leão... disse...

A gente já teve esse papo dentro da van. Lembra?
Até achei que vc tinha descendência dos Highlanders... ^^
Também sou um europeu em potencial, pois não me agrada essa cu-ltura tropical. Desejo a França e seu inspirador clima mediterrâneo de Nice. Uh-lalá.

Abração...^^

PS: E desculpe se alguma vez eu toquei em vc sem saber. Tenho uma parte italiana tbm. Hehehe

Poeta Mauro Rocha disse...

Não, nosso país é maravilhoso e esse calor todo é culpa da humanidade que destrói e está destruindo nosso planeta, já imaginou você na europa e o clima mudar radicalmente e o calor for infernal, como já aconteceu e matou alguns, você não nasceu num país errado e sim num clima mais quente.

BJS.